Ao Maestro com Carinho



por @AdamsDamas

Quando ouvi Sabotage pela primeira vez, rimando que respeito é pra quem tem e que RAP é compromisso, pensei que seria mais um pra engrossar o coro da música negra brasileira e desse ainda som marginal.


Mas Sabotage não era apenas mais um! Todos que trabalharam com ele, incluem-se o RZO, grupo que o descobriu, são unânimes em afirmar que Sabotage era inovador. Não havia ninguém na época – e mesmo agora – que escrevia e cantava como ele fazia.
Era de se surpreender que alguém saído da favela, com pouca instrução, funcionário do tráfico e também viciado, não só tivesse talento, mas que conseguisse usar isso para seu bem próprio.

Mas o Maestro do Canão, como era conhecido, queria mais! Apesar de ter alcançado o sucesso entre seus pares e angariar uma boa legião de fãs, não ficara restrito apenas ao mundo hermético que já foi o RAP nacional.

Dizia com todas as letras que não ouvia apenas RAP, mas também Rock, MPB e Pop. De Chico Buarque a Sandy e Júnior, acreditem! E ao contrário dos manos e das minas que refutavam em aparecer em certos programas de certos canais, Sabota não fazia essa distinção e ia aonde lhe abriam as portas.

O cinema lhe abriu as portas. Se não me engano ele é um dos poucos rappers que participou de algum longa. O Invasor, filme cult de Beto Brant, e que tinha ainda outro músico, Paulo Miklos no papel principal, poderia ter sido um divisor de águas para o RAP brazuca se mais portas como essa abrissem e se os rappers seguissem os passos de Sabotage.

Precursor em muitas coisas, dava para perceber que Sabotage almejava ir mais longe. Mudou-se com a família, da lendária favela do Canão, para ter um bom lugar e uma condição melhor de moradia do que tinham, no entanto, seu passado cruzou seu caminho e o alvejou interrompendo a trajetória de um dos mais profílicos artistas que a música brasileira como um todo já produziu.

Seu álbum póstumo saído agora nos faz entender o que foi Sabotage e o que ele poderia se tornar se estivesse vivo.

Mas temos uma nova geração de rappers como Emicida, Rael, Projota, Karol Konká, Lurdes da Luz, que como Sabota, entra pelas portas que lhes abrem não importa qual. Até mesmo veteranos como RZO, Thaíde e o racional Edi Rock parecem, de alguma forma, seguir os passos do Maestro. Homenageando-o, talvez?

O legado de Sabotage está aí, pra quem quiser ver e ouvir. Nossos governantes precisam cuidar com mais cuidado a situação do nosso povo nas favelas. Vai saber se o próximo Sabotage não está em um daqueles barracos rascunhado o que poderá ser o novo RAP brasileiro.



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